Faz um tempinho que já aconteceu isso, mas só agora resolvi escrever sobre o acontecido.
Antes de contar o que me instigou a escrever esse post, vou contar a minha história pessoal que me fez questionar se jornalista pode, ou não, ter suas opiniões escancaradas pela web.
Pois bem, como estagiária do veículo jovem Kzuka, marca do grupo RBS, sempre tive muita liberdade para fazer reportagens e sempre tratei meus entrevistados como amigos, nossas conversas eram super informais. O Kzuka tem essa identidade, é mais descontraído, despojado, e se você não se diverte escrevendo, você não está escrevendo como deveria. Tudo, é claro, feito com muita responsabilidade com o nosso público jovem.
Pois bem, antes de entrar para a empresa, eu sempre colocava mil frasezinhas no MSN, no status do Facebook, enfim, expressava minha opinão sobre os ocorridos da semana ou do dia. Futebol, política, coisinhas rotineiras, eu me indignava ou me deslumbrava com algo e saia twittando por aí.
Mas como eu comecei a formar uma grande rede de contatos por causa do Kzuka, comecei a pensar mais no que eu escrevia nas redes socias. Como torcedora roxa do Internacional, uma alfinetadinha básica nos torcedores rivais era normal. Mas se um dia eu preciso entrevistar um gremista fanático para uma reportagem sobre futebol e ele leu meu status no Facebook falando sobre o Inter? Ele não contestaria a credibilidade da minha reportagem? Não abriria pretextos para ele acreditar que meu trabalho é totalmente parcial?
Editor e repórter do Washington Post fala sobre restrições do veículo.
Pois bem, deve ser assim que os diretores do Washington Post pensam. O jornal norte-americano agora impôs regras no uso de redes sociais para seus jornalistas. A razão? O exato dilema que eu sofri. Alguns jornalistas, como colunistas ou cronistas são contratados para expressarem suas opiniões, outros como repórteres são pagos para contarem os fatos. Então, se o repórter X cobre a comissão do Lula e depois tuíta sobre sua aversão ao governo do PT, isso não faria o leitor questionar a credibilidade da matéria que leu ou viu?
O critíco James Poniewozik do blog Tune In, que é hospedado no site da Time, criticou a medida do Washington Post. Não é de se negar que ele teve bons argumentos para fundamentar sua opinião. Ele comenta que opiniões são vitais e que se um repórter que está sempre no meio das notícias e dos fatos não tem uma opinião formada sobre nada, ele é um idiota. E você não quer ser informado por um idiota. O crítico também opina que deixar os repórteres expressarem suas opiniões fora do texto noticioso demonstra transparência no sistema jornalístico. Ele ainda aprovoca:
Here’s something everybody should understand about journalism. The reporters, columnists and news anchors you follow almost all have opinions about the subjects they cover.
Algo todos devem entender sobre jornalismo. Os repórteres, colunistas e âncoras você segue, quase todos têm opiniões sobre os assuntos que eles cobrem.
Mas essa é a opinão de um jornalista com personalidade forte. Quem lê o blog de Poniewozik sabe que ele não fica em cima do muro. Porém, precisamos da opinião de um leitor, certo?
Foi aí que me deparei com um comentário muito bem estruturado no mesmo artigo. O leitor, um pouco revoltado, disse que ele não quer saber a opinião do repórter mas sim, saber que os fatos são reportados como eles simplesmente são.
Discussão difícil, não? Leia o artigo de Poniewozik, aqui.
[Via http://paulaminozzo.wordpress.com]
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